quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Bitolados em Mandamentos

Nesses últimos dias estive pensando sobre o fascínio e o domínio que um livro pode exercer sobre nós.

Há pouco tempo vi o livro “O Segredo” se tornar febre; até critiquei quem mergulhou de cabeça. Meses depois li um livro que me fez olhar de outra forma para a cultura, cujo nome é “O que é Indústria Cultural” – Teixeira Coelho.

Em determinada parte o livro aborda a alienação dentro da própria cultura e mostra a rejeição da cultura tradicional dentro da atual.

Assim penso: também nós, famintos pela notícia, conhecimento, sabedoria, não estamos alienados tanto quanto a sociedade que criticamos? Por exemplo, o “povão” que quer saber de futebol mas não se preocupa com seus bilhões levados pelo governo.

O livro aborda o fato de ingerirmos toda a cultura que nos é passada sem criticarmos, seja qual for o caminho. Um exemplo: recebemos a notícia de que um avião caiu; muitos, famintos por informação digerem a notícia, comentam, mas esquecem de acrescentar na sopa toda uma singela questão: a pergunta “Será?”... Será mesmo que foi assim?

O livro fala sobre ingerir informação, mas não digerir. Esquecemos que a imprensa em si também dança de acordo com a música.

Outro exemplo me chamou a atenção: muitos de nós criticamos a cultura atual (sou uma dessas pessoas): criticamos o cantor que juntou vários instrumentos – sejam eles “musicais” desde a guitarra à tampa de panela e fez um som, cuja letra mistura o samba com o rock; o pintor que pegou um papelão, colocou num pedaço de madeira pintou o fundo com diferentes tipos de tinta e criou um quadro. Ou o escultor que pegou um banquinho de bar, passou nele uma corda, pendurou-o a um ventilador e o mostrou como sua escultura.
Olhamos para tudo isso e perguntamos: “Isso é cultura? Aonde vamos parar?Estamos perdidos?

Sim! Isto é cultura sim! É nossa cultura, são nossos artistas se expressando.
E essas obras não são iguais ao que acontece no mundo hoje? Não somos globalizados? Não somos um mix?

Se hoje aqui do Brasil posso conversar com um amigo que está na Inglaterra e ao mesmo tempo, uma amiga está nos EUA (um mix de conversas, uma mistura de uma cultura de lá, outra de cá...) por que a música daquele cantor tem que ser somente samba? Ou aquele pintor tem de pintar somente imagens que nos passam o que realmente são: casa, gente, praia, e o mesmo segue com o escultor?

O mesmo livro citou o caso de um pintor que retratou em seu quadro, seu momento. Foi considerado arte pois fazia parte de séculos passados. Portanto, o pintor que retratou o século presente foi criticado por pintar a sua realidade. Percebi quanto preconceituosa e alienada sou- e somos.

Admirar a cultura do passado é bom, é natural. Creio que um bom intelectual encara sua realidade, informa-se do seu passado, levanta questões sobre o que aconteceu e acontece e respeita tanto o que já foi quanto o que é, preparando-se para o que será.
Ao criticarmos de forma negativa esquecemos que somos partes vivas desta cultura, querendo ou não.

Não saímos nas ruas vestidos de rendas, chapéus, perucas – por que não criticamos o terno e o jeans?

Um fato despertou-me tempos atrás: fui a uma ópera; foi bonita e blá, blá... tempos depois, pensei: “eu gosto mesmo de ópera? Ou vou porque é culto, é bonito ir?” ... descobri que eu preferia mil vezes o show da Vanessa da Mata, mas descobri de uma forma estranha: como se eu fosse uma católica fervorosa ( falo assim porque minha mãe me obrigou a ser católica no passado- mas não era fervorosa) cometendo um pecado que não me prejudicava.

Não posso dizer que não gosto de ópera, mas descobri que prefiro MPB. Não preciso gostar mais de música clássica para julgar-me inteligente, culta ou informada. Tanto eu ou um amante da música clássica fazemos parte, hoje, da indústria cultural, não há saída.

Por este fato fascinei-me tanto pelo livro. Infelizmente sou ainda uma indústria cultural alienada, pois “quanto mais sei, menos sei” e amante da cultura do passado. Não preciso gostar de tudo o que me mostram, mas posso pensar sobre o assunto, dependendo do que disser meu sentimento e não do que a massa e a elite considerarem bom ou mau.

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